Dai-lhes vós mesmos de comer! (Mt 14, 16)
A Igreja Católica celebra todo ano a Quaresma como um tempo propício para a conversão. É a oportunidade que o cristão tem de refletir sobre sua vida interior e a prática do amor concreto. A Igreja enquanto sacramento de salvação integral do mundo quer levar seus filhos a uma experiência de conversão sincera e madura.
A Quaresma tem uma força transformadora que incide sobre o humano das pessoas através dos exercícios de piedade tão bem trabalhados na religiosidade popular. As nossas famílias e comunidades vivem intensamente esses dias que precedem a Páscoa do Senhor.
A prática da oração, do jejum e da esmola são atitudes assumidas pelo nosso povo e constituem o alicerce da espiritualidade quaresmal. É dai que brotam a caridade, o desejo e a compreensão da confissão auricular, a necessidade de um retiro espiritual enquanto oportunidade de colocar em ordem a própria vida com suas aspirações e remansos existenciais, a celebração da Via-Sacra no sentido de percorrer o caminho amoroso e doloroso percorrido por Jesus para a nossa redenção, dentre tantas outras.
Neste horizonte da conversão e da partilha se insere a Campanha da Fraternidade como uma oportunidade a mais de estímulo dos exercícios espirituais da Quaresma. Observe, caro leitor, que a CF não substitui a Quaresma, mas oferece uma possibilidade madura e cristã para aprimorar e refletir sobre realidades do cotidiano que gritam por nossa compaixão e amor.
Com o tema Fraternidade e Fome, sendo o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14, 16), a Igreja no Brasil quer, pela terceira vez, levar os brasileiros a perceberem que a fome é um grito de milhões de pessoas, não só em nosso país, mas em todo o planeta. No entanto, sendo nossa nação uma das maiores exportadoras de alimento do mundo, o flagelo da fome nessas terras constitui um escândalo e um grave pecado social.
Como homens atentos à formação integral da pessoa humana, os Bispos brasileiros, nos fazem atentar que o problema da fome tem vários matizes que preocupam a sociedade como um todo e que pede uma resposta mais consistente na Igreja através de suas forças vivas. É preciso percorrer os continentes espirituais e emocionais da sociedade contemporânea onde a fome também castiga.
Segundo os Bispos, o ser humano não tem fome apenas de comida, de alimentos saudáveis e nutritivos. Realmente temos fome de pão, mas é igualmente verdade que temos fome de Deus, aquela beleza que lhe brinda a transcendência, o infinito e o eterno. As pessoas têm fome de relações sinceras, afetos equilibrados, de arte e de música, de paisagem natural, de justiça, de saúde e de escola.
Amados, precisamos saciar a nossa fome e a fome dos irmãos e das irmãs no grande espectro apontado pelos bispos a fim de reidratar a alma e harmonizar o coração. Mas, Cristo, no entanto, ordena a nós, sua Igreja, “dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14, 16).